Ouro rompeu máximas históricas, incerteza global e o (novo) papel do Bitcoin

Ouro rompeu máximas históricas em 2025 impulsionado por cortes/expectativas de cortes de juros, compras recordistas de bancos centrais e risco geopolítico; ao mesmo tempo, Bitcoin consolidou-se como “reserva digital” com demanda institucional via ETFs. Para o investidor qualificado, o barbell Ouro + BTC, calibrado por duration de caixa e metas de risco, tornou-se uma estratégia defensivo-ofensiva para ciclos de incerteza.

Resumo executivo: juros reais em queda, compras recordistas de bancos centrais, congelamento de reservas soberanas e tensões geopolíticas recolocaram o ouro no centro do portfólio global — com preços testando a região dos US$ 4.000/oz. Em paralelo, a abertura do canal institucional via ETFs spot consolidou o Bitcoin como reserva digital com potencial de convexidade. Para o investidor qualificado, o barbell Ouro + BTC, ancorado por caixa de curta duração e regras de risco, tornou-se uma estratégia defensivo-ofensiva para o atual regime de incerteza.

Por que o ouro rompeu máximas históricas e voltou ao centro do tabuleiro

1) Juro real em queda reduz o custo de carregamento

O ouro não paga cupom; portanto, quando os juros reais caem (ou o mercado precifica cortes), o custo de oportunidade diminui e o metal tende a se reprecificar. Em 2025, a combinação de desaceleração do crescimento, pressões fiscais e expectativa de afrouxamento monetário impulsionou o movimento, culminando em novas máximas históricas.

2) Desglobalização tensa e risco de “confisco financeiro”

O congelamento de centenas de bilhões de dólares em reservas soberanas a partir de 2022 enviou ao mundo um recado claro: ativos financeiros em jurisdições adversárias podem ser imobilizados em cenários extremos. O ouro físico próprio — especialmente em custódias robustas e diversificadas por país — ganhou prêmio geopolítico.

3) Bancos centrais como compradores estruturais

Após o recorde de 2022 e a segunda maior compra anual em 2023, as aquisições oficiais permaneceram firmes em 2024–2025. Esse fluxo “paciente” fornece um piso de demanda para o preço e reforça a função do ouro como ativo de reserva fora do sistema de crédito.

4) Rebalanceamento das reservas oficiais

A combinação de compras soberanas e reavaliação de riscos cambiais levou a um rebalance gradual das carteiras de reservas. Em termos de valor de mercado, o ouro ganhou participação relativa frente a títulos públicos de países centrais, um regime shift simbólico que ajuda a explicar a força do metal.

Onde estamos no ciclo

Macro: dívida elevada, crescimento irregular e perspectiva de juros reais menores compõem um pano de fundo historicamente favorável ao ouro. Fluxos: bancos centrais sustentam a demanda estrutural, enquanto investidores institucionais e de varejo entram taticamente nos spikes de risco. Risco técnico: altas verticais perto de novas máximas costumam produzir realizações; entradas em camadas e overlays de proteção são recomendáveis.

Bitcoin entra na conversa (e não é por hype)

1) Trilho institucional aberto

Os ETFs spot de Bitcoin nos EUA criaram um canal de acesso com governança conhecida, liquidez profunda e reporting compatível com práticas de mercado. As entradas bilionárias e o crescimento do AUM de fundos líderes traduzem demanda persistente.

2) Diversificador em regime de incerteza

Em semanas de stress macro, observaram-se fluxos simultâneos para ouro e ETFs de BTC. A correlação é instável, mas a tese de “reserva digital” ganhou tração em um ambiente de moedas enfraquecidas e riscos políticos elevados.

3) Ciclos próprios de oferta

Após o halving de 2024, a oferta nova de BTC se contraiu enquanto a demanda via ETFs tornou-se diária. O resultado é maior assimetria: drawdowns continuam possíveis (e prováveis), mas a convexidade de alta permanece quando o fluxo institucional acelera.

Como posicionar: o barbell Ouro + BTC

Objetivo: preservar poder de compra real e capturar convexidade assimétrica numa janela de incerteza elevada.

Núcleo defensivo — Ouro (5–15% do PL)

  • Veículos: barras/moedas em vault qualificado; ETFs 100% alocados; futuros para overlay tático.
  • Execução: entradas fracionadas (DCA ou grid de 3–5 níveis); gestão cambial BRL/USD conforme passivos; atenção a basis e custos de rolagem.
  • Riscos: risco de jurisdição e custódia; volatilidade pós-máxima; política monetária mais dura do que o esperado.

Convexidade — Bitcoin (2–8% do PL)

  • Veículos: ETFs spot (simplicidade operacional e compliance), custódia própria para parcela estratégica, fundos locais quando aplicável.
  • Execução: evitar perseguir “velas” após mega-entradas; utilizar regras frias de redução parcial em euforia (ex.: take profit por ATR ou bandas) e recomposição em pullbacks estatísticos.
  • Riscos: eventos regulatórios, slippage em períodos de pico, alta correlação tática com ativos de risco em choques de liquidez.

Amortecedores e governança

  • Bucket de liquidez: pós-fixados/dólar de curta duração para margens, impostos e oportunidades.
  • Rebalanceamento: trimestral por orçamento de risco (manter VaR agregado dentro de uma faixa-alvo).
  • Diversificação de jurisdição: custódias e listagens em praças distintas reduzem risco idiossincrático.

Táticas de entrada e saída

Entrada

  • Ouro: fracionar compras após spikes de manchete; monitorar DXY, inclinação da curva e termos de ETF vs. físico.
  • BTC: usar “dias de respiro” após picos de captação nos ETFs; preferir lotes menores e frequentes a ordens grandes em momentos de euforia.

Saída/realocação

  • Ouro: acelerar reduções táticas quando juros reais subirem de forma sustentada ou quando dados mostrarem desaceleração nas compras oficiais.
  • BTC: realizar parciais em sequências de entradas > US$ 1 bi/dia e sinal de exaustão de curto prazo; manter dry powder para recomprar em correções.

O que pode dar errado (e como mitigar)

  • Pivô “hawkish” inesperado: fortalece juro real e pressiona ouro e cripto. Hedge: puts em ouro/BTC, dólar e futuros.
  • Queda das compras oficiais de ouro: retira o comprador marginal. Mitigação: monitorar relatórios de bancos centrais/WGC e ajustar exposição.
  • Choque regulatório em ETFs ou custódia: afeta o canal de demanda do BTC. Mitigação: diversificar veículos e manter parcela em self-custody com governança robusta.

Tese Meelion para 2025–2026

Ouro: permanece como hedge macro principal enquanto perdurar o triângulo “dívida alta + crescimento fraco + juros reais voláteis/decrescentes”. Bitcoin: consolidado como reserva digital institucional; volatilidade é recurso quando gerida por regras. Portfólio: o barbell Ouro + BTC entrega resiliência + convexidade em um mundo em que regras podem ser reescritas e reservas, imobilizadas.


Conclusão

É importante compreender que na data deste artigo, ambos os ativos estão próximos ou em suas máximas históricas. Se por um lado o ouro representa uma reserva estratégica em tempos de incerteza mundial, o Bitcoin oferece liquidez e mobilidade em um ambiente em que a velocidade pode definir oportunidades.

Saber alternar entre realização e posicionamento é fundamental em ciclos de mercado. O Bitcoin, apesar da entrada institucional e da crescente maturidade do mercado, ainda segue uma lógica matemática regida pelo halving, e essa dinâmica tende a persistir. Tudo indica que ainda temos alguns meses de força altista pela frente, até que o próximo ciclo de baixa se inicie.

Durante o bear market das criptomoedas, surge uma das janelas mais assimétricas para quem busca construir posição de longo prazo. Estratégias de DCA (Dollar Cost Averaging) em BTC, aliadas à proteção do ouro, formam uma estrutura robusta de preservação e multiplicação patrimonial, um verdadeiro barbell de resiliência e convexidade para o investidor qualificado.

Links e referências

Escrito por:
Equipe de Redação da Meelion.

Ela é formada pelos founders Dan Mark Printes e Eduardo Horvarth e também escritores convidados. Entre em contato aqui.

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