Ibovespa nos 161k: Ainda dá tempo de entrar ou está caro?
No pregão de 2 de dezembro de 2025 o Ibovespa alcançou um novo recorde, chegando aos 161.092 pontos ao final do dia, alta de 1,56%. Esse patamar inédito reflete tanto fatores locais – cenário eleitoral em que candidatos preferidos pelo mercado avançam nas pesquisas – quanto externos, em especial a consolidação de apostas em cortes de juros pelo Federal Reserve dos EUA. É importante observar que, ao mesmo tempo em que as ações sobem, o dólar comercial vem caindo frente ao real (cotado a R$5,33, -0,57% no dia), fazendo com que ativos dolarizados percam valor em reais. Para o investidor de renda fixa, surge então a dúvida: aproveitar a alta do Ibovespa incluindo ações na carteira ou manter/aliar posições em títulos de renda fixa nacionais ou estrangeiros?
Ibovespa nos 161k: contexto macroeconômico e fatores de alta
O momento atual combina juros brasileiros elevados (Selic em 15% ao ano) e expectativas de queda de juros nos EUA. O Fed reduziu a taxa básica para faixa de 3,75–4,00% em outubro de 2025, e o mercado já projeta mais cortes – alimentando altas nas bolsas mundiais e condições financeiras mais frouxas. No Brasil, indicadores recentes (como produção industrial fraca em outubro, +0,1% m/m) reforçam a ideia de desaceleração econômica, o que pode pressionar o Copom a cortar o ritmo de quedas do juro antes do previsto. Essa combinação tem levado à inclinação descendente da curva de juros doméstica (com DI de curto prazo caindo) e ao fechamento da curva em todos os vencimentos, apoiando principalmente ações de setores cíclicos mesmo em cenário de atividade fraca.
Externamente, a expectativa de cortes adicionais nos EUA atrai capital para ativos emergentes. Conforme destacou o economista Charles Mendlowicz, “com os juros [EUA] no pico, os EUA atraíam capital; agora, com queda nos juros, parte desse dinheiro começa a se espalhar, […] indo para Brasil e outros emergentes”. De fato, o real brasileiro foi uma das moedas mais fortes em 2025: acumulou alta de cerca de 14% entre janeiro e setembro. A valorização do real tem explicação principalmente em fatores externos favoráveis (como fluxo de capitais em commodities e rotas financeiras globais). Em suma, o Ibovespa sobe com a expectativa de juros menores (tanto locais quanto globais) e a valorização do real, enquanto dados macro e eleições influenciam o humor do mercado.
Renda fixa x ações: análise de risco e retorno para carteiras diversificadas
Nos últimos meses, tanto a renda variável quanto a fixa têm oferecido bons retornos, o que dificulta respostas simples. Em 2025 até novembro, o Ibovespa acumulava cerca de +28% de alta. No mesmo período, índices de renda fixa também renderam muito bem: o IDkA IPCA 30 (títulos indexados) subiu +24,7%, o IDkA Pré 5 anos (prefixados) +23,6%, o IMA-Geral +12,7% e o CDI +12,1%. Ou seja, mesmo com a bolsa em forte alta, os títulos públicos brasileiros (que refletem a Selic alta) vêm pagando retornos robustos.
Para o investidor de perfil conservador, essa comparação indica que a renda fixa ainda oferece “juros gordos”. Por exemplo, tesouro pré-fixado de médio prazo rende cerca de dois dígitos anuais, independentemente de futuros cortes de juros. Títulos atrelados à inflação dão IPCA + ~7% (ao ano), cifra considerada elevada pelo mercado. Esses retornos compensam o chamado “risco Brasil” (maior instabilidade fiscal e política) em comparação aos títulos de países mais previsíveis. Em suma, na renda fixa brasileira o investidor “trava” rentabilidades altas no curto prazo, enquanto na renda variável busca potencial de ganhos extra – porém assumindo volatilidade muito maior.
No plano internacional, títulos do Tesouro americano (Treasuries) já oferecem menos retorno nominal que os brasileiros – a nota de 10 anos rende em torno de 4% ao ano –, mas trazem menor risco de crédito e proteção cambial (dólar). Contudo, com a forte queda recente do dólar, quem tem ativos dolarizados (como Treasuries ou fundos internacionais) vem amargando perdas em reais. Essa queda do dólar pode ser transitória, especialmente se o Fed continuar cortando juros e o real permanecer forte. Em termos práticos: se o investidor brasileiro mantiver posições em ativos internacionais, o câmbio favorável reduz a rentabilidade em reais; mas esses ativos continuam sendo relativamente seguros.
Pontos-chave de risco para carteiras diversificadas:
Cenário de juros divergentes: Selic em 15% vs Fed em cortes. Enquanto o Brasil deve começar a cortar juros apenas em 2026, nos EUA já há expectativa consolidada de redução das taxas. Isso pode beneficiar a bolsa (menores custos de capital) mas significa que os rendimentos de novos títulos (nacionais e estrangeiros) tendem a cair.
Desempenho recente dos ativos: Em 2025, o Ibovespa vem superando CDI e poupança, mas parte desse ganho foi capturada por pré-fixados e títulos indexados. Ou seja, mesmo sem ações, carteiras conservadoras obtiveram bons retornos. A alta atual da bolsa já reflete muito otimismo (resultados de empresas, expectativas de inflação e juros mais baixos etc.), de modo que valorizações adicionais passam a carregar mais risco de correção futura.
Impacto do câmbio: o real forte (queda do dólar de ~13,7% no ano) tem efeito duplo. Por um lado, fortalece importações e diminui pressões inflacionárias. Por outro, deprecia ganhos de investimentos atrelados ao dólar. Este movimento cambial pode ser revertido se o cenário global mudar – por exemplo, em crise internacional o dólar costuma subir, diminuindo atratividade da bolsa local.
Diversificação e risco fiscal: manter parte da carteira em renda fixa (títulos públicos nacionais ou internacionais) preserva a liquidez e segurança, enquanto ações podem turbinar ganhos mas apresentam volatilidade. A alta do Ibovespa nos níveis atuais já incorpora eventos políticos e tarifários, assim como riscos residuais de instabilidade fiscal doméstica. Resumindo: há espaço para os dois ativos numa carteira bem-diversificada, mas ajustado ao perfil do investidor.
Momentos sazonais e tendências: historicamente, dezembro tende a ter fluxo comprador (Rali de Natal), o que pode sustentar a bolsa no curto prazo. Em contrapartida, bancos centrais e indicadores como inflação e PIB devem guiar decisões de rebalanceamento no início de 2026.
Em síntese, para quem tem carteira diversificada de renda fixa, não é hora de pânico nem de decisões precipitadas. Aproveitar a alta do Ibovespa pode elevar o potencial de retorno, mas vem acompanhado de mais risco. Para avaliar troca de alocação, o investidor deve considerar seus objetivos, horizonte e tolerância ao risco. Uma alternativa é rebalancear gradualmente: por exemplo, realocar uma pequena parcela da renda fixa (prefixados ou atrelados ao IPCA) para ações ou ETF de Ibovespa, mantendo o grosso em renda fixa. Assim, captura-se parte do rally atual sem abrir mão da segurança oferecida pelos juros altos.
Fontes Consultadas
Broadcast Estadão

Escrito por:
Equipe de Redação da Meelion.
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