A XP Expert 2025 reuniu os principais especialistas do mercado para debater os rumos da economia brasileira e global. O recado foi claro: os próximos anos exigirão preparo, seletividade e leitura estratégica dos cenários macro e microeconômicos.
Se você perdeu alguma coisa, aqui estão os sete principais insights do evento, explicados de forma direta — para você entender o que realmente importa e como isso pode afetar suas decisões de investimento.
1. O crédito privado continua atrativo — mas exige olho clínico
Ainda há oportunidades reais no crédito privado, principalmente para quem entende o jogo de arbitragem entre as ofertas restritas a investidores profissionais e o momento em que esses papéis se abrem para os investidores qualificados. É nessa transição que mora o ganho de spread.
Mas os especialistas foram taxativos: ativos com rating abaixo de AAA devem ser evitados no momento. O atual ambiente de juros altos e crescimento da inadimplência exige máxima seletividade. Quem quer rentabilidade com segurança deve olhar para emissores sólidos, estrutura de garantias robusta e distribuição bem feita.
2. A revolução da IA vai começar onde você menos espera: nas interfaces
O futuro da tecnologia não está apenas no que a IA é capaz de processar, mas em como ela será acessada. A tese apresentada é que a grande disrupção virá da substituição total das interfaces que usamos hoje — como teclado e mouse — por interações naturais, baseadas em voz, contexto, imagens e movimento.
Essa mudança não é futurismo: já está em curso com carros e óculos inteligentes, e deve chegar à experiência bancária e de investimentos nos próximos anos. IA será o novo “meio de navegação” — e o investidor do futuro não vai mais clicar, vai conversar.
3. S&P esticado, inflação sob controle e infraestrutura como porto seguro
Do ponto de vista global, o evento apontou que o S&P 500 já está esticado, o que pede cautela com novas entradas no mercado americano. A inflação nos EUA deve convergir para cerca de 2,5%, com possíveis 1 ou 2 cortes de juros ainda em 2025, e um ciclo mais firme de afrouxamento monetário em 2026.
Nesse contexto, ativos reais como infraestrutura ganham destaque. Eles têm contratos indexados à inflação, resiliência em momentos de stress e fluxo constante de caixa. A mensagem foi clara: neste momento de transição, proteja sua carteira com setores previsíveis e que entregam retorno real.
4. O maior risco para o Brasil não está no noticiário: é o fiscal
O painel mais contundente foi, sem dúvida, o sobre a sustentabilidade da dívida pública brasileira. Apesar de uma arrecadação recorde, os gastos continuam crescendo — e não há qualquer sinal de contenção ou revisão estrutural.
Especialistas alertaram que 2026 será fiscalmente mais arriscado que 2025, especialmente por ser ano eleitoral. O cenário ideal exigiria um plano profundo de revisão de despesas obrigatórias a partir de 2027. O uso do IOF como ferramenta arrecadatória foi duramente criticado, por penalizar pequenas e médias empresas.
O maior problema? A percepção de risco está adormecida, porque a inflação segue controlada e o PIB cresce no curto prazo. Mas o mercado já vê que, se nada mudar, o Brasil pode caminhar para um desequilíbrio insustentável.
5. Juros altos por mais tempo: a festa da renda fixa continua — por enquanto
A taxa Selic chegou a 15% em 2025 e, segundo o consenso apresentado, deve permanecer nesse nível por pelo menos mais quatro reuniões do Copom. Só a partir de março de 2026 é que cortes podem começar — e isso ainda depende de uma combinação de fatores: desaceleração firme da inflação, estabilidade cambial e sinais de arrefecimento da atividade econômica.
Com juros reais em patamares historicamente elevados, o ambiente continua favorável para investimentos em renda fixa, especialmente os de longo prazo. Mas o recado é importante: não se acomode. Essa janela não vai durar para sempre, e quando os cortes começarem, a precificação pode mudar rápido.
6. A corrida pelos ativos isentos vai apertar os spreads nos próximos meses
Com a proximidade da nova tributação sobre produtos isentos como LCI, LCA, CRI e CRA, o mercado já antecipa uma verdadeira corrida por esses ativos. Nos próximos seis meses, a demanda deve subir com força — o que tende a comprimir os spreads e reduzir a atratividade para quem entrar mais tarde.
Além disso, os FIDCs bem estruturados ganharam destaque como alternativa defensiva. Eles são desenhados para suportar eventos de inadimplência, com camadas de proteção como subordinação, reservas e garantias reais. Para investidores que buscam diversificação e defesa em crédito, o FIDC se posiciona como uma peça importante no portfólio.
7. Cripto + IA: uma fusão que pode reinventar o sistema financeiro
O painel sobre criptomoedas apresentou uma visão madura sobre o estado atual do setor. A exposição a cripto pode ser feita por compra direta, ETFs, fundos regulados ou participação em protocolos DeFi — e o investidor já pode escolher o nível de sofisticação que deseja.
Mas o ponto mais provocativo foi a união entre cripto e inteligência artificial. Já é tecnicamente possível que agentes de IA operem carteiras cripto de forma autônoma, executando contratos inteligentes. Isso, claro, ainda depende de avanços sérios em governança, segurança e identidade digital descentralizada.
Além disso, o destaque foi para o papel dos stablecoins lastreados em Treasuries americanas, como USDC e USDT, que hoje ajudam os EUA a digitalizar sua influência monetária no mundo. O Genius Act — proposta de regulação de stablecoins privadas nos EUA — foi citado como peça central para dar segurança jurídica a esse novo ecossistema.
Conclusão
A XP Expert 2025 escancarou um novo ciclo: fiscalmente mais frágil, geopoliticamente mais imprevisível e tecnologicamente mais transformador.
A pergunta que fica é: o investidor está preparado para navegar esse cenário com clareza e estratégia?
Com os juros ainda elevados, o risco fiscal crescendo e a IA mudando a forma como pensamos e interagimos com dinheiro, as decisões que tomarmos agora podem definir os próximos anos.