Pausa nas tarifas? Donald Trump fez o mundo prender a respiração nesta semana. Com um gesto abrupto, o presidente americano anunciou uma pausa nas tarifas de 90 dias sobre importações – mas apenas para os países que não retaliaram. Em vez de um recuo humilde, Trump orquestrou uma manobra calculada: elevou ainda mais as tarifas contra a China, enquanto deu alívio temporário aos aliados dóceis. O resultado? Um sobe-e-desce vertiginoso nos mercados globais, líderes mundiais atônitos e tensões renovadas em um tabuleiro geopolítico que impacta até o Brasil.
Neste artigo, dissecamos essa jogada provocativa – do vaivém de anúncios à estratégia negocial “Made in Trump” – e o que ela significa para commodities, exportadores e a política monetária brasileira.
Cronologia dos Eventos: do tarifaço ao alívio temporário
2 de abril de 2025 – “Dia da Libertação”
Trump declara uma guerra comercial sem precedentes, anunciando tarifas “recíprocas” altíssimas contra praticamente todo o mundo. Ele batiza a ofensiva de “Liberation Day” (Dia da Libertação), insinuando libertar os EUA de acordos comerciais “horríveis” e injustos. Investidores e diplomatas entram em pânico: compreende-se que Trump pretende refazer o sistema de comércio global a qualquer custo, ignorando potenciais danos econômicos. As bolsas despencam e a confiança despenca junto – vislumbre de caos no horizonte.
Ao longo da semana (3-8 de abril)
As tarifas extremas de Trump – incluindo uma taxa-base de 10% sobre todas as importações e sobretaxas punitivas a países com superávit comercial com os EUA – começam a valer. A China revida imediatamente. Outros países, aconselhados a “manter a calma e não escalar”, buscam diálogo com Washington em vez de retaliação direta. Ainda assim, o cenário é de guerra comercial global: mercados mundiais em queda livre, dólar oscilando, e previsões de recessão pipocando. O índice S&P 500 chega à beira de um “bear market”. A volatilidade atinge níveis não vistos desde o início da pandemia, com trilhões de dólares evaporando das bolsas em poucos dias.
9 de abril (manhã) – O abalo máximo
As novas tarifas de Trump entram plenamente em vigor à meia-noite, afetando dezenas de países. A resposta chinesa agrava o confronto: Pequim mostra que não vai piscar primeiro. A União Europeia aprova tarifas de até 25% sobre US$ 23 bilhões em produtos dos EUA, numa resposta faseada e cautelosa. O Brasil, por sua vez, evita retaliar de imediato, optando por observar e proteger seus interesses enquanto o furacão tarifário passa.
9 de abril (tarde) – A “pausa” inesperada
Menos de 24 horas depois de soltar o tarifaço, Trump surpreende o mundo ao anunciar em sua rede social uma suspensão de 90 dias na cobrança das tarifas punitivas – mas só para os países que não retaliaram. China fica de fora do alívio; para Pequim, Trump cumpre a ameaça e sobe a tarifa de importação de 104% para estratosféricos 125%. A Casa Branca esclarece que permanece em vigor um tarifa universal de 10% sobre praticamente tudo, além das tarifas pré-existentes de 25% sobre aço, alumínio e autos. No anúncio, Trump atribui a trégua parcial ao “compromisso de mais de 75 nações” em negociar soluções – em outras palavras, sua tática funcionou: dezenas de países correram para a mesa de negociação. Ele chega a dizer confiante:
Um acordo será alcançado com a China. Um acordo será alcançado com cada um deles
Reforçando que instigou o mundo a “ficar frio” (be cool) de propósito.
Nos bastidores, soube-se que a cúpula econômica (Secretário do Tesouro, Scott Bessent, e Secretário de Comércio, Howard Lutnick) esteve ao lado de Trump enquanto ele redigia a postagem, chamando-a de “uma das mais extraordinárias de sua presidência”.
Pausa nas tarifas e a estratégia de Trump: tensão máxima e o “Art of the Deal”
Por mais caótico que pareça, o vaivém tarifário de Trump está longe de ser um mero tropeço ou recuo envergonhado. Ao contrário, faz parte de um modelo de negociação que ele alardeia há anos. O próprio Trump já se auto-intitulou “Tariff Man” em 2018, argumentando que impor tarifas é “a melhor forma de maximizar nosso poder econômico”. Sua filosofia, inspirada em seu livro The Art of the Deal, consiste em estabelecer metas altíssimas, criar pressão extrema e então barganhar a partir da vantagem criada.
A “pausa nas tarifas” de 90 dias encaixa-se perfeitamente nesse manual de jogo. Trump elevou a tensão ao limite – assustando mercados, CEOs e governos pelo mundo – apenas para então aliviar parte da pressão e assumir o controle da narrativa.
Eu pensei que as pessoas estavam exagerando… ficando um pouco assustadas. Eu reverti isso por um curto período de tempo
Admitiu Trump. Em outras palavras, ele reconheceu que soltou o freio para evitar quebrar o brinquedo – uma concessão tática, não um abandono do plano.
A estratégia, segundo sua equipe, era clara: não retaliem, venham negociar reduções de tarifas e subsídios, e então Trump estará pronto para um acordo. Essa abordagem de “aperta e solta” desconcertou líderes globais, mas do ponto de vista de Trump, é negociação em estado puro.
Um efeito colateral calculado dessa tática é o controle da narrativa. Trump alterna o papel de incendiário e bombeiro, reivindicando crédito tanto pelo caos (“era necessário chacoalhar o status quo!”) quanto pelo alívio (“só eu pude evitar o desastre!”). Investidores alinhados a Trump celebraram a jogada, com o bilionário Bill Ackman chamando a execução de “brilhante” e “The Art of the Deal”.
Reações internacionais: dólar, comércio e um jogo de nervos global
A movimentação errática dos EUA sob Trump deixou aliados e rivais em alerta máximo. China e União Europeia, em particular, reagiram de modos diferentes. Pequim condenou duramente o aumento das tarifas a 125% e prometeu contramedidas. A UE aprovou retaliações moderadas, mas tenta manter a porta aberta para o diálogo.
Outros países como Japão, Coreia do Sul e Índia correram para engajar em negociações bilaterais com os EUA. O dólar oscilou, primeiro disparando com o caos, depois caindo com o alívio. Trump demonstrou que pode balançar o dólar e as bolsas mundiais ao seu bel-prazer, tweet a tweet, tarifa a tarifa.
Impactos para o Brasil: commodities, exportações e política monetária
Exportações de commodities
A tensão entre EUA e China reforça o Brasil como fornecedor alternativo de soja, milho e carnes. A demanda chinesa aumenta e os preços sobem. Mas uma reaproximação EUA-China pode inverter o cenário.
Aço e metálicos
As tarifas sobre aço e alumínio permanecem. O Brasil não está incluído na pausa. Exportadores seguem enfrentando barreiras, mas evitam novas penalizações.
Câmbio
O real havia ultrapassado R$6,00. Após a trégua, recuou para R$5,85. Isso ajuda a conter a inflação, mas a volatilidade persiste.
Juros e inflação
Com menor pressão cambial, o Banco Central pode manter ou até acelerar cortes de juros. Ainda assim, a cautela permanece necessária.
Investimentos
A trégua impulsionou a Bolsa. Setores exportadores lideraram. Se o clima se mantiver, o apetite por risco pode voltar.
Conclusão: Pausar as tarifas é mais uma jogada dentro do “reset global”
Longe de ser um recuo, a “pausa nas tarifas” é mais uma peça movimentada no grande tabuleiro do que alguns chamam de “reset global” – a reconfiguração das regras econômicas internacionais. Trump tensiona até quase quebrar, depois solta um pouco, mudando os termos do jogo a seu favor.
Para o Brasil, entender esse jogo é crucial para não ser pego de surpresa. Precisamos navegar entre as oportunidades (como a exportação à China) e os riscos (como a dependência de um cenário volátil).
Nos próximos 90 dias, tudo pode mudar. A única certeza é que Trump continuará jogando. E quando ele recuar, olhe duas vezes.
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Confira também:
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Fontes consultadas:
The Economist – “Trump’s tariff pause brings investors relief—but worries remain”
Associated Press – “Markets rally after Trump suspends trade tariffs for 90 days”
Axios – “Markets surge after tariff truce”
Barron’s – “Tesla stock jumps nearly 23% after tariff pause”
CNBC – “Trump’s tariffs: timeline and impact”